Nos últimos anos o surgimento de novos fornecedores de componentes eletrônicos contribuiu enormemente para a queda dos preços dos insumos utilizados na fabricação de máquinas-ferramenta destinadas a indústria em geral. Este fator fez com que motores, drives e comandos numéricos computadorizados deixassem de ser exclusividade de meia dúzia de fornecedores mais tradicionais. Alternativas com valores mais baixos e boa qualidade passaram a ser aplicados na fabricação de diversos equipamentos, dentre eles as mesas de corte CNC operando por plasma, objeto de nossa avaliação neste momento.


De maneira bastante simplificada podemos dividir os últimos quinze anos em três fases quanto a oferta deste tipo de equipamentos no Brasil. Num primeiro momento apenas poucos fabricantes comercializavam as mesas de corte CNC em território nacional, praticando valores elevados devido sobretudo a falta de concorrência. Posteriormente, com o surgimento de novos fabricantes nacionais pôde ser quebrada a hegemonia destes tradicionais fornecedores que reinavam no país, fato este que permitiu uma “popularização” das mesas de corte em indústrias de todos os portes. Uma característica comum a estes novos fabricantes é que, em sua maioria, atuavam no ramo de automação industrial e assim sendo já possuíam domínio da tecnologia de controle e movimentação. Dentre estes, aqueles que comprovaram capacitação técnica conseguiram parceria com fabricantes de fontes plasma internacionais, obtendo assim acesso a todo tipo de treinamentos de capacitação, condição que lhes permitiu ofertar ao mercado equipamentos de elevado padrão de qualidade, aptos a competir em condição de igualdade tecnológica com os fornecedores mais tradicionais. Infelizmente, numa fase mais recente, vivemos um temporal de ofertas de mesas de corte com preços extremamente baixos. Em muitos casos estas mesas de corte de baixíssimo custo são comercializadas por empresas sem histórico comprovado de atuação na área de automação industrial e sem parceria firmada com distribuidores renomados de fontes plasma. Via de regra seu produto padrão é uma mesa de corte compacta, fabricada em perfis tubulares leves e com baixo padrão tecnológico. Tais equipamentos mal suportam pequenos trabalhos de corte de chaparia com espessura inferior a 5 mm, e possuem vida útil extremamente reduzida. Mesmo quando vendidas com fontes plasma de boa qualidade, não possuem padrão tecnológico mínimo para garantir um bom acabamento de corte, e assim sendo, acabam se tornando um pesadelo para seus usuários.


O momento ruim pelo qual o mercado veio passando nos últimos anos muitas vezes leva o empresário a efetuar a compra com base em um orçamento extremamente limitado, porém isto não quer dizer que só lhe restarão produtos de baixa qualidade. Como fazer diante de tamanha oferta de equipamentos? Que fatores observar para evitar realizar uma aquisição desastrosa de um equipamento que não lhe apresentará a confiabilidade operacional necessária? A seguir listarei algumas precauções que poderão lhe conduzir a uma decisão de compra mais segura neste momento de águas turbulentas.


1. Entenda seu processo produtivo a fim de escolher que potência de fonte plasma irá melhor lhe servir.

Não importa simplesmente saber a máxima espessura que você deseja cortar pois isto muito provavelmente vai lhe conduzir a escolha de fontes de maior potência, elevando demasiadamente o investimento inicial requerido. A diferença de preço entre uma fonte que corta 32 mm de espessura para uma que corta 22 mm de espessura pode facilmente ultrapassar os R$50.000,00!!! Se sua empresa necessita 90% do tempo efetuar cortes de espessuras inferiores a 19 mm, considere a possibilidade de escolher uma mesa de corte CNC com uma fonte plasma menor, de boa qualidade, e peça que incluam uma caneta de maçarico oxicorte adicional para eventuais cortes de espessuras superiores. Fazendo isso haverá redução do investimento inicial, mantendo o padrão de qualidade de corte até que você possa realizar um eventual upgrade de fonte plasma;


2. Verifique se a empresa que lhe oferece o equipamento possui aval do fabricante de fontes plasma para fazer a integração deste item com a mesa de corte que estão lhe ofertando.

As empresas que possuem este “aval” são denominadas OEM (ORIGINAL EQUIPMENT MANUFACTURER), e sua equipe foi treinada pelo fabricante da fonte. Caso o fabricante não possua a classificação de OEM evite adquirir seus produtos pois ele não possuirá condições sequer de lhe prestar assistência no momento de eventuais problemas com aquela marca de fonte plasma. Um fornecedor internacional de fontes plasma sempre informará em seu website o nome dos OEM’s credenciados como uma forma de garantir o produto que você está adquirindo. Se tiver dúvidas ligue diretamente para o escritório nacional do fabricante de fontes plasma e peça referências;


3. Verifique as referências do fabricante que está lhe fazendo a oferta.

Peça relação de clientes onde ele possua mesas de corte iguais a que está lhe ofertando, escolha aleatoriamente alguns da lista para ligar, em seguida procure falar com o “proprietário” sobre satisfação com o produto, sobretudo com o pós venda. Evite visitas a estes locais na presença do vendedor da mesa pois há uma tendência de que o usuário final evite falar mal do equipamento na presença de seu fabricante. Da mesma forma verifique informações cadastrais da empresa proponente a fim de saber se sua condição financeira oferece risco ao negócio, uma vez que ao longo dos anos seguintes eles deverão lhe garantir assistência técnica e peças para este conjunto, o que só acontecerá se possuírem saúde financeira. Muitos fabricantes não suportaram bem esta crise atual e encontram-se prestes a fechar suas portas.


4. Saiba quanto será cobrado por uma eventual assistência técnica ao equipamento no futuro.

Solicite que o fabricante formalize em sua proposta comercial os valores que pratica por uma eventual manutenção no equipamento. Estes custos envolvem valor da hora do técnico de manutenção, custos de deslocamento para atendimentos no período de garantia e fora dele, dentre outros. Hoje em dia os fabricantes de mesas de corte “mais tradicionais” adotam uma estratégia de redução de preço de venda de seus equipamentos, porém visam garantir seus lucros nas assistências técnicas futuras, cobrando valores bastante elevados. Conseguem isso utilizando na fabricação de seu conjunto alguns componentes importados dos quais são fornecedores exclusivos, como por exemplo CNC’s de procedência européia. Conheço caso de empresa que sucateou sua mesa de corte caríssima após 3 anos de uso, devido ao preço cobrado pelo fabricante para reparo de um CNC alemão. Conheço outras tantas que possuem estes equipamentos parados há meses, até anos, devido a inviabilidade de reparo. Certamente você não gostaria de encarar este tipo de problema.


5. Evite a todo custo mesas de corte compactas.

Chamamos assim as pequenas mesas de corte cuja banca de apoio das chapas é incorporada à estrutura principal do equipamento. Trata-se de projeto extremamente frágil devido ao fato de que em todas as operações de carga e descarga de chapas as vibrações serão transferidas para o conjunto como um todo, favorecendo o aparecimento de problemas mecânicos, folgas e empenos. Estes equipamentos só são adequados a pequenas serralherias, para corte de chapas finas num volume inferior a 200 Kg por dia. Não suportam o regime de trabalho nem mesmo de uma caldeiraria leve, pois ao final de dois ou três meses de operação apresentam folgas e desvios de medida irreparáveis. Como seu grande apelo é o baixo custo, nunca incorporam sistema confiável de controle automático de altura para tocha plasma, o que lhes acarretará péssima qualidade de corte por toda a sua vida útil. Se você pensa em incorporar um maçarico à sua mesa de corte a fim de cortar chapas grossas, não poderá fazê-lo neste tipo de equipamento uma vez que sua estrutura móvel encontra-se muito próxima da banca de apoio das chapas, o que trará grandes problemas devido à exposição dos motores ao calor da chama;


6. Dê preferência a mesas de corte no estilo “pórtico”.

Estes conjuntos são fabricados para correr sobre trilhos fixos em perfis de aço pesados, instalados de maneira independente sobre o piso, com a banca de apoio das chapas separada de sua estrutura principal. Este é, sem sombra de dúvidas, o desenho mais adequado à indústria, uma vez que suporta melhor as operações de carga e descarga da banca de corte sem transferir vibrações para a estrutura principal do pórtico. Exija um equipamento com capacidade de receber upgrade para fontes plasma de qualquer potência no futuro. Se lhe afirmarem que existe limitação com relação à potência máxima de fonte plasma a ser incorporada a esta mesa de corte, evite adquiri-la.


Tomadas as precauções acima, boa sorte em sua decisão!



Marcelo Negreli


Engenheiro Mecânico, pós graduado em manutenção, MBA em Gestão Empresarial, proprietário e diretor da empresa Bestmark.


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